Outro mundo queremos
Resumo do Eu Racional

Prof. Adriano Albuquerque Gomes

        Podemos entender o Eu racional sob o ponto de vista do filósofo René Descartes. Nesse sentido, o Eu terá duas etapas. A primeira é a etapa da desconstrução, e a segunda é a etapa da reconstrução. Vejamos isto passo a passo.

        Primeira etapa – a desconstrução. Nessa etapa o René Descartes tem o objetivo de desconstruir todos os princípios sob os quais o saber humano está amparado. Para isso ele não precisa desconstruir todos os conhecimentos que compõem o saber humano, mas apenas os seus princípios fundamentais. Lembramos que os saberes não estão amparados sob um único principio. Existem os conhecimentos, cujos princípios são empíricos, e existem outros, cujos princípios são de ordem intelectual. Para os princípios empíricos René Descartes propõe dois argumentos.

        O primeiro é o argumento do erro dos sentidos. Com este argumento ele mostra que nossos sentidos não são capazes de nos trazer a verdade sobre as coisas, já que ele nos enganam às vezes. O segundo é o argumento dos sonhos. Com este argumento ele mostra que nossos sentidos não tem condições de discernir o que é real e o que é fictício.

        Os dois últimos argumentos são criados para desconstruir os princípios que embasam os conhecimentos de ordem intelectual. O argumento do Deus enganador diz que toda vez que eu penso em alguma coisa foi, na verdade, um pensamento que este Deus colocou em minha cabeça. Por exemplo, ao somar 2+4=6, esta soma é obra desse Deus Enganador. Mas, este possui a bondade infinita. Logo, possa ser que em algum momento ele não queira me enganar. Nesse caso, René Descartes cria o argumento do Gênio Maligno. Este não possui escrúpulo. Engana-me o tempo todo. Assim sendo, todas às vezes que eu somo 2+2=4 esta é uma operação criada pelo Gênio Maligno. Portanto, eu não posso confiar mais em meu pensamento, já que o tempo todo esse Gênio Maligno está em meu espírito. Logo, eu suspendo o meu pensar sobre tudo e qualquer coisa. Nada mais existe. Nem eu, nem o mundo, nem este chão que neste momento é pisado pelo filósofo.

        Para concluir esta primeira etapa, é necessário dizer que como todos os princípios que sustentam o saber humano foi desconstruído, necessariamente, e por uma questão de rigor lógico, todo o complexo do saber humano foi desconstruído.

        Segunda etapa do Eu Racional. Nesta segunda etapa René Descartes se volta para a sua própria resolução de determinar que nem ele mesmo existe. Com isso ele faz três descobertas que garantem a ele reconstruir parte do que ele desconstruiu. Ele reconstrói o espirito humano. Nessa reconstrução ele descobre três certezas sobre o espírito humano.

        A primeira certeza é tirada logicamente da sua desconstrução: se eu supus que eu nada sou, que o mundo nada é, que as coisas nada são, então eu, que suponho não ser, sou sim alguma coisa. Pois eu pus tudo em dúvida. Ora, o ato de duvidar é o ato de pensar e, como só pensa aquele que existe, então é certo que eu existo. Nesse caso, René Descartes obtém a primeira certeza: eu sou alguma coisa. Agora, eu que sou, eu sou o que mesmo? Se eu descobri que sou por meio do ato de pensar, então eu sou uma razão, um espirito. Logo, eu sou uma coisa pensante. Esta é a segunda certeza que René Descartes consegue na cadeia das razões do sistema que está a reconstruir. Existe ainda outra certeza que René Descartes tira da etapa da desconstrução. Se a primeira coisa que ele descobriu foi que ele existe, e que essa existência é uma essência, ou seja, o espírito humano, que por sua vez é capaz de entender as coisas, raciocinar, pensar, então é porque esse espírito é mais fácil de conhecer do que o corpo, já que este ainda está sob a suspensão imposta pela etapa dúvida, ou seja, a desconstrução.

        Para concluir, podemos dizer que René Descartes desconstruiu princípios empíricos e de natureza intelectual, cujas funções desses princípios eram fundamentar o saber humano, mas em seguida reconstrói todo um sistema do saber humano, dando-lhe outra base fundamental. Esta se trata do espírito humano, que servirá de fundamento para todo o saber, seja ele natureza empírica, como é o caso da biologia, seja de natureza intelectual, como é o caso da matemática, por exemplo.

Questões para pensar e entregar ao querido professor

1) Por que René Descartes desejou desconstruir e reconstruir todo o sistema do saber humano?

2) Por que René Descartes criou o argumento do erro dos sentidos?

3) Com que objetivo René Descartes criou o argumento do sonho?

4) Qual é a diferença entre o argumento do Gênio Maligno e o argumento do Deus enganador?